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Hipnose: dos Palcos aos Consultórios

Foto do escritor: Cássio C. NogueiraCássio C. Nogueira

A hipnose sempre flertou com o mistério. Na ficção, frequentemente aparece associada ao ilusionismo, ao charlatanismo e ao curandeirismo, como ferramenta de manipulação, dominação e exploração. Em tempos mais recentes, virou show nos palcos de teatros e nos programas de TV. Um dos atuais nomes em evidência é o Hipnotizador Fabio Puentes (assista a um de seus vídeos: https://goo.gl/wE2mEu).


A exploração do tema pela mídia popular transmite uma visão equivocada da hipnose ao explorar o feito em si para despertar a curiosidade e, portanto, apresentando-a como mero produto de diversão. Por essa abordagem, o interesse das pessoas pela hipnose tem registrado altos e baixos em sua história, bem como tem produzido uma coleção de críticas geralmente baseadas em informações equivocadas.


Entretanto, a origem da hipnose é totalmente distinta dessa aplicação popular propagada nos meios de comunicação e nos negócios do entretenimento. Ela nasceu do trabalho de médicos além de sua época, que buscavam formas de entender o funcionamento da mente humana para conseguirem curar seus pacientes.

Johann Joseph Gassner conduzia as mais famosas sessões de exorcismo da Europa na década de 1760. O padre austríaco atendia todos aqueles que não haviam encontrado a cura para seus tormentos através da medicina. O religioso acreditava que sintomas como febres, dores e convulsões eram fenômenos consequentes de possessões demoníacas e só a expulsão do espírito malévolo poderia devolver a paz ao enfermo. Em suas sessões, o padre utilizava-se de orações, objetos santos, ordens gritadas, sussurros de conforto, gestos e rituais santos. Em geral, os doentes se agitavam no desenvolver da sessão para logo em seguida acalmarem-se, supostamente curados do mal.


No ápice do pensamento iluminista, que tentava interpretar fenômenos de qualquer natureza de forma racional e avessa às crenças religiosas, os críticos da abordagem de Gassner chegaram a formar comissões para tentar desmascarar o padre. No início da década de 1770, uma dessas comissões foi conduzida pelo médico radicado em Viena, Franz Anton Mesmer que, após presenciar uma série de atendimentos do Padre Gassner, acreditou em seu poder de cura, mas atribuiu ao fenômeno da cura uma explicação física. Há anos o médico de Viena defendia a existência de um fluído cósmico universal invisível, capaz de conectar forças do espaço, da terra e do homem e o desequilíbrio dessas forças seriam a causa dessas doenças. Assim, o reequilíbrio desses elementos restauraria a saúde do enfermo. Ao observar o padre principalmente utilizando o crucifixo, Mesmer entendeu que esses rituais alteravam o “magnetismo animal”, reequilibrando e curando o indivíduo. De volta a Viena, Mesmer adaptou e desenvolveu a prática de Gassner, seguindo rituais muito parecidos, mas utilizando-se dispositivos e materiais como água e limalha de ferro que pudessem magnetizar o corpo humano. O médico de Viena não apenas desenvolveu a técnica como a difundiu seus preceitos, que inclusive serviram de base a diversas outras doutrinas, como o espiritismo – Louis Claude de Saint-Martin foi aluno de Mesmer e, anos mais tarde, o decodificador do espiritismo, Allan Kardec, destacou a significativa influência da teoria do “magnetismo” para a doutrina.


O “magnetismo” ou “mesmerismo” teve muitos adeptos, mas também levantou muitas dúvidas das classes médicas e, na tentativa de desmascarar uma “má intensão” de seu criador que, de acordo com os registros históricos, nunca existiu, levou diversos expoentes da medicina a estudar seus métodos e resultados. Com o tempo, muitos encontraram ali evidências de abordagens que efetivamente surtiam resultados de cura, se não pela ideia original de um “magnetismo animal”, pelo procedimento em si. Eram então posicionados os primeiros blocos do pavimento que conduziria à hipnose como hoje a conhecemos.


Nesse caminho, seguiram diversos médicos que deixaram sua marca na história do tratamento da psique humana, como James Braid, Josef Breuer, Jean-Martin Charcot e Sigmund Freud, até chegarmos ao Doutor Milton Erickson, o qual foi profundamente estudado por Richard Bandler e John Grinder (a Hipnose Ericksoniana é um dos pilares da Programação Neurolinguística).

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REFERÊNCIAS:

Dossiê SUPER INTERESSANTE, edição 353-A, de novembro de 2015;

Mentes Fantásticas, de Alberto Dell'Isola, Ed. Universo dos Livros, 2016.

 
 
 

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